About
A intimidade do ser revirado e exposto, matéria e corpo, ambos manchas do mesmo contexto.
A série Fragmentos Íntimos é fruto de uma investigação que surgiu espontaneamente. Meu interesse pelos processos de aplicação da tinta abriram as possibilidades de representação conceitual. Assim, comecei a investigar o corpo como o centro de um ser. O corpo é aquilo que reconhecemos como nós e como os outros. Por tanto, dentro deste conceito, explorei várias dinâmicas: o misântropo (aquele que odeia a humanidade e prefere a solidão), as dinâmicas dos corpos em grupo e a relação à dois.
Assim, surgiram as nuâncias dos conflitos internos, o peso das consequências de escolha entre o amor e o medo e a capacidade de existir de forma anônima. Numa atmosfera caótica, o corpo se perde em seu meio, fundindo-se a manchas de cor e camadas de pinceladas inseguras. Na tentativa de esconder uma identidade, removo ou agrego manchas sobre seus rostos. A imagem, aos poucos, é desconstruída e construída repetidas vezes por transparências e tonalidades. Estas figuras angustiadas e conturbadas revelam embates minuciosos entre anônimos que não reclamam uma identidade e não querem ser devassados ─ embora não se neguem a se mostrarem.
Retirei o preto da paleta de cores por ter uma intensa carga emotiva e visual. As cores leves e neutras tendem à serenidade que, por vezes, se opoem à calamidade interna evocada pelo conteúdo.
Tami Oliveira